O fenómeno da morte humana é algo realmente perturbador.
Ainda nestes últimos tempos assisti de perto à dor e sofrimento desse processo. Vimos partir um jovem médico, pai, empresário e investigador, que muito deu e tanto tinha para dar. De forma clara e perturbadora, tudo isto parece escancarar, a brevidade da vida.
A linha entre vida e morte é tênue. Basta um sopro, um estalar de dedos… e alguém que estava aqui, um instante atrás, de repente não está mais.
Quando lidamos diariamente com estas dinâmicas de funcionamento do corpo humano, essa linha ainda é mais óbvia. Somos passageiros, frágeis, e por ironia normalmente não tomamos essa consciência. Tudo isto me fez refletir, sobre uma certa “ilusão de imortalidade” que, caracteriza a raça humana.
E como é estranho assistir que teremos mais gente ao nosso lado quando morrermos, do que em vida. Esta espetacularidade da tristeza é um fenómeno realmente macabro.
Creio que, conscientes da nossa fragilidade e finitude, seríamos mais humildes e gratos. Deixaríamos de valorizar esta imensa quantidade de banalidades cotidianas. Valorizaríamos o tempo como aquilo que ele é: um recurso bastante limitado e, por isso mesmo, precioso. Valorizávamos o tempo com as pessoas, e principalmente com as experiências que a vida nos proporciona.
Nas minhas últimas consultas do ano lancei o desafio aos meus utentes: “ Imagine uma pessoa importante na sua vida? Qual a primeira coisa que se lembra ao pensar nela?”
Curioso avaliar que ninguém se lembrava de um bem material. Mas sim das experiências proporcionadas por essa pessoa. O sorriso, uma viagem ou aquele abraço.
A vida é demasiado curta para não a saborearmos todos os dias.
E se a certeza é morrer, vamos viver a vida só para contrariar…